A CHUPETA É BOA OU RUIM?
A chupeta é sempre motivo de discussões e polêmicas quando se trata de objeto utilizado na rotina dos bebês. Neste texto tenho o propósito de trazer informações reais e que adquiri na minha experiência prática durante este quase 15 anos como Cuidadora de Recém Nascidos, Consultora em amamentação e finalmente Consultora de Sono de Bebês de 0 a 3 anos de idade
Como tudo na maternidade, é preciso avaliar os prós e contras de cada escolha que fazemos e atitudes que adotamos no dia a dia com nossos bebês.
Para entendermos o uso milenar da chupeta, é preciso que tenhamos conhecimento da fase e das necessidades de um recém-nascido.
O “reflexo primitivo de busca” é o que percebemos quando tocamos o lábio ou a bochecha do bebê e ele rapidamente se vira para o lado em que foi tocado, acompanhado de outro reflexo primitivo que é o da sucção.
Estes dois reflexos são testados pelo médico no momento do nascimento. A ausência deles pode determinar a ausência de integridade do sistema nervoso central. No entanto, a busca reflexa e o reflexo de sucção desaparecem entre 2 meses e 4 meses respectivamente.
Pela percepção destes reflexos pelos pais, é que vemos o surgimento da chupeta ou objetos que os bebês pudessem chupar como forma de se acalmar.
Vestígios de objetos semelhantes a chupeta foram encontrados em várias civilizações, com registros que datam de milhares de anos.
Na Roma Antiga e na Grécia eram usados os “mamilos de lã” embebidos em mel ou outras substâncias adocicadas com o intuito de acalmar o bebê.
Há registros de bebês recebendo pedaços de pano macios ou pedaços de couro de animais nas civilizações egípcias e da mesopotâmia.
Na idade média eram usadas madeiras, couros, pedras e até mesmo ossos que eram chamados de “amuletos de sucção” embebidos em mel, para que os bebês e crianças se mantivessem entretidos.
Entre os séculos XVII e XVIII começam a surgir objetos mais semelhantes à chupeta como temos hoje, que eram feitos de uma combinação de materiais como pérolas, coral, marfim, prata e outros materiais e eram denominados “corais de dentição” . Eram usados não somente como “chupetas” mas também para ajudar os bebês na fase de dentição.
Somente no século XIX e início do século XX começaram a surgir as chupetas como a conhecemos hoje e os materiais foram evoluindo até chegarmos nos modelos, formatos e materiais que usamos atualmente.
Devo dar chupeta ao meu bebê?
Como vimos, o Reflexo de busca e sucção acompanham o bebê nos primeiros meses e estes reflexos podem deixá-los mais excitados e com necessidade de satisfazê-los. Porém, esta necessidade é diferente de bebê para bebê. O que se observa na prática, é que não são todos que têm a necessidade ou que aceitam a chupeta e alguns, na falta do objeto de sucção, descobrem o polegar ou outros dedos da mão ou até mesmo uma fralda ou uma pontinha de coberta. Não vai haver nenhum julgamento sobre ter ou não estes objetos dentro do berço, estamos falando da realidade do dia a dia e da opção de diferentes famílias. Esta necessidade da chupeta e do dedo pode passar por volta de 4 a 6 meses e pode tornar -se um hábito de difícil remoção, principalmente se for o dedo já que não temos como negar ou disciplinar o uso quando o bebe faz sua escolha pelo dedo..
Seja por necessidade ou por hábito, o que devemos fazer é restringir o uso da chupeta, oferecendo a chupeta apenas para dormir, caso o bebê tenha desenvolvido dependência. A partir do final do terceiro mês, percebemos que em todas as vezes que o bebê entra em sono profundo, a sua mandíbula vai relaxar e a chupeta vai cair, este é o momento de não colocar a chupeta em seguida na boca do bebê como muitas mães e pais fazem com medo de que o bebe acorde.
À medida em que o bebê cresce, ele mesmo pega a sua chupeta nos breves despertares da noite e quando entra em sono profundo, novamente ele solta a chupeta. Esse comportamento acontece por volta de 2 a 3 vezes durante a noite, neste momento estou falando de bebês com autonomia para dormir, não podemos confundir com bebês que não tem autonomia e precisam dos pais para voltarem a dormir.
Qual o prejuízo da chupeta para o meu bebê?
Se levarmos em conta que a chupeta é um objeto indutor do sono, mesmo sendo uma associação e que ela deve ser usada apenas para dormir, a chupeta, como objeto de sucção, não tem o poder de causar deformidades orofaciais. Para que deformidades aconteçam no desenvolvimento orofacial, é preciso que haja uma predisposição genética e que nesses casos, com chupeta ou sem chupeta, o problema irá se manifestar. Não confundir com a mordida aberta que são os dentinhos que se projetam para a frente quando o hábito da chupeta é permitido em maior tempo para o bebe. No entanto, assim que é retirado o hábito da chupeta, em 30 ou 60 dias, os dentinhos voltam a sua posição inicial.
Pensar como exemplo, em um bebê de um ano que faz duas sonecas por dia, mais o início do sono noturno e mais 3 despertares a noite , este bebê fará uso da chupeta por no máximo 1h30 a 2h em um período de 24h. É fácil ver que não é possível que a chupeta desenvolva deformidades nem dificuldade de fala.
O prejuízo da chupeta está no mau uso quando permitimos que uma criança passe boa parte de dia fazendo uso da chupeta, principalmente com panos e bichinhos de pelúcia pendurados que causam a tração, dos dentes pelo peso que estes objetos causam na chupeta e que não soltam a chupeta nem para pronunciar as primeiras palavras. Portanto, se seu bebê desenvolveu dependência de dormir com a chupeta, entenda que a chupeta só deve ser oferecida para dormir.
Qual o prejuízo da chupeta para a amamentação?
Em toda minha experiência com amamentação em mais de 5 anos, exercendo diariamente, nunca tive um caso do que chamam “confusão de bico”. Quando eu era acionada para resolver um caso supostamente de “associação de bico” invariavelmente o bebê tinha problemas gástricos de refluxo e o choro e a “briga” com o peito na hora de mamar, que são os primeiros sintomas desta patologia, faziam com consultoras iniciantes e menos experientes identificassem como “confusão de bico” trazendo para a mãe um atraso no diagnóstico do problema e toda uma culpa ilusória por ter dado a chupeta.
Em países como os Estados Unidos, a chupeta é dada de presente aos pais já na maternidade. Nunca ouvi, em outros países nem da América do norte e nem da Europa, nos meus trabalhos presenciais, a expressão “confusão de bico” pelos profissionais.
Portanto, a minha avaliação é de que a chupeta é boa ou ruim, dependendo do uso que se faz dela e isso se estende para várias outras áreas da maternidade.
Portanto, o conhecimento tanto científico como empírico, é fundamental para nos trazer uma leveza e uma maternidade mais realizadora .
Lembrando que a decisão de dar ou não chupeta é sempre dos pais e que usar ou não usar chupeta nada tem a ver com o sono do Bebê. Um bebê dorme bem, usando ou não chupeta, basta que tenha sido conduzido com bons hábitos.
“Ajudo milhares de mães em todo o mundo há mais de 12 anos a conduzirem a rotina de sono de seus bebês, para que elas se sintam mais confiantes e seguras do pleno desenvolvimento dos seus bebês”.
Sou mãe de 2 filhos e entrei nesse universo após passar pela Síndrome do Ninho Vazio. Para superar esse momento, decidi ressignificar a saudade que sentia dos meus filhos, ajudando outras mulheres a experimentarem a alegria de viver a maternidade enquanto seus filhos são bebês. Estudei, participei de palestras e me dediquei a aprender tudo o que tinha sobre o tema “sono infantil” para conduzir as mães nesta fase tão linda.
Há mais de 12 anos, tenho ouvido histórias tristes de mães que não puderam desfrutar plenamente dessa primeira fase da maternidade por não conseguirem fazer seu bebê dormir com autonomia e tranquilidade.
Mães que se sentiam perdidas em relação ao sono dos filhos, mas que agora mantêm uma rotina regrada com mais tempo para si e sua família.